Iniciei a terrena travessia
Numa madrugada invernosa
Assistida pela parteira Maria
Na estação de outono cheguei.
Esgoelei no silêncio da noite
O pranto enigmático da vida
Com medo do mundo lá fora
Desgarrada do útero chorei.
Agasalhada em cueiros bordados
Deitada na rede de cru algodão
Armada no cantinho da alcova
Iluminada pela luz do lampião.
Cresci no sertão nordestino
Ouvi histórias de assombração
Puxei muita água da cacimba
Vi na terra seca a plantação.
Atravessei as mazelas do tempo
Lamuriei e dei graças também
Sou viajante do trem passageiro
Já passei por várias estações.