fatima fontenele lopes
Rascunhos da alma
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O DOCE MUNDO DE MARIA

 

Maria era uma menina pobre, nascida em um chuvoso mês de março, numa madrugada de lua cheia. A penúltima dos filhos de numerosa família, moradora de uma pacata cidade interiorana. Maria era uma criança reservada, de poucos amigos, e adorava ficar sozinha no seu encantado mundo. Tinha muito medo da noite e, por isso, sempre buscava o aconchego da mãe para dormir, pois temia os Fantasmas, o Lobo Mau, a Mula sem cabeça, a Alma Penada e o Lobisomem, personagens das histórias contadas pelo pai. Amava brincar em lugares abertos, pular nas pedras do rio, dá cambalhota nos galhos das árvores e na areia do riacho. Uma garota calma, sonhadora e que acreditava no Papai Noel. Mas, nas noites de Natal, o bom velhinho não passava para deixar o presente, como fazia com outras crianças da sua rua. Talvez, por não ter uma árvore de Natal em casa ou por ter esquecido de colocar a meia na janela da frente. Ficava desconsolada, mas sempre arranjava uma desculpa para justificar a ausência  e  amenizar a sua  tristeza. Mas sua vida de criança era muito divertida e feliz, principalmente, no sertão, na companhia de seus amados genitores. Lá,  extravasava suas energias no contato com a bela natureza. Adorava subir em árvores, tomar banho de chuva, observar o canto dos pássaros, brincar com os animais da fazenda, procurar ninhos de passarinhos e observar a mãe alimentando os seus lindos filhotinhos. Passava muito tempo acompanhando o vai e vem dos Maribondos, trazendo barro no bico para construir sua casa em lugar seguro e protegido das chuvas. Admirava  o trabalho árduo das Formigas, levando alimentos. Gostava de andar na mata na busca de encontrar uma casa do João de Barro ou um ninho de Papagaio, mas temia se deparar com um Tamanduá e a perigosa Cobra-de-cipó. Ao anoitecer, amava deitar no chão do terreiro para olhar a sua principal inspiração: a magnífica Lua, sempre pedia para a Lua nova trazer na volta um pedido seu. E, as estrelas? Adorava contar as estrelas, mas dizia a crendice popular que, ao contá-las, nasceria a mesma quantidade de verrugas nos dedos, mas não acreditava, um passatempo fascinante. Dentre todo aquele brilho no firmamento, buscava as Sete Estrelas das fábulas narradas por seu pai e, ainda, a Estrela Dalva, conhecida pelo reluzente brilho e esplendor, que a destacavam das demais. Amava o nascer do Sol, para ela, o despertar da vida, o canto do galo, o gorjear dos pássaros, o berro dos animais, o latido do cachorro, a fala do papagaio, o barulho do vento no telhado e o leite mugido no curral, ordenhado por sua mãe. Fascinada pelas Nuvens, ali era o seu faz de conta, seus devaneios. Na sua fantasia de criança, as nuvens a levariam para muitos lugares bonitos da terra e do céu. Amava soltar  pipas, feitas de papéis coloridos com um novelo de linha para direcioná-lo no ar e levá-lo às alturas. Amava o entardecer com o céu de nuvens cheias e o surgimento do arco-íris, com suas lindas cores,  uma deslumbrante visão que a deixava emocionada e sonhadora. Sua vida era  um conto de fadas, desfrutava das melhores coisas do campo e, na simplicidade do seu dia a dia, fazia de seus momentos mágicos a busca encantada de uma criança inocente, doce e alegre.

 

Maria de Fátima Fontenele Lopes
Enviado por Maria de Fátima Fontenele Lopes em 08/12/2022
Alterado em 09/08/2023
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