A inesquecível casa 1052 da rua Poti, que margeia o rio do mesmo nome, na cidade de Crateús, no interior do Ceará. Uma residência de muitas vivências, palco de hilariantes, sofridas e vitoriosas histórias, escritas temporalmente na memória de uma família numerosa que nela morou por décadas, além de vizinhos e demais pessoas que transitaram e até se hospedaram naquela antiga construção de paredes altas, cobertas por um telhado rústico e meias paredes pintadas de um verde angelical. Em cada cômodo, a presença e a marca de muitos acontecimentos imortais na lembrança dos sobreviventes da antiga moradia. Hoje, é possível visualizar a frente da casa com uma porta principal e duas longas janelas que serviam de deleite para a contemplação do vai e vem de pessoas, da conversinha transitória com a vizinhança, o observar do despontar do sol ou da noite em dias de lua cheia e céu estrelado. O longo corredor da velha casa marca a presença de inúmeros transeuntes que fincaram as suas pegadas no chão de cimento queimado e nas paredes mal pintadas. Ao lado, a sala de visita, e bem visíveis na memória as molduras do coração de Jesus e do coração de Maria. Algumas poucas cadeiras de assento de couro e uma pequena mesa com um antigo rádio, um deleite para a família que ouvia as lindas músicas interpretadas na época. A primeira alcova, com uma cama modelo colonial e estonteante penteador com um espelho grande, um velho guarda-roupa e uma mala de couro envernizada e repicada de ilhós prateados. O aposento foi palco de amor, nascimentos, sorrisos, lágrimas e doloridas partidas. Logo adiante, mais dois ambientes com portas interligadas, que serviam de dormitórios da grande prole, e espalhadas, estavam diversas redes de algodão cru com varandas de tear que permaneciam dia e noite de prontidão. Adiante, a grande sala de jantar com duas janelas e uma porta que dava para um terraço. No meio, uma antiga mesa redonda de madeira rústica que servia para a distribuição das deliciosas refeições. Logo à frente, dois cômodos, uma saleta e a cozinha com um fogão à lenha e uma grande chaminé que se sobressaía no telhado. Dois grandes potes de barro com água potável e um cabide com copos de alumínio, usados, coletivamente, pelos membros da casa e visitantes. Seguindo, o espaçoso quintal com uma profunda cacimba de onde se tirava água salobra para banho e os afazeres domésticos e totalmente sem proteção e descoberta, à mercê da sorte das crianças, aves e animais. No final do muro, existia o primitivo banheiro e sanitário com duas divisórias, sem pia e uma única porta de entrada Depois do último portão, a paisagem deslumbrante, onde se via uma vegetação rasteira e algumas árvores ribeirinhas. Por último, uma cerca de varas, uma cancela e o maravilhoso rio que, no inverno, descia majestoso sobre pedras e arbustos. Uma visão espetacular, quando esparramava as suas águas no extenso leito, atraindo pássaros que sobrevoavam as suas margens. A casa 1052 é um acervo histórico que se perpetua até os dias atuais, perfazendo quatro gerações, que seguem os princípios oriundos dos ensinamentos iniciados pelos primeiros moradores o Sr. Antônio Viana Lopes (Minoso) e Raimunda Fontenele (Mundinha) daquele humilde e vetusto casarão, de tantas lembranças, ainda hoje guardadas na memória dos que tiveram o privilégio de fazer parte de sua história.