Crato, 24 de junho 2023
Meu amado, João,
Acordei no silêncio da madrugada com o coração partido de imensa saudade de você, meu pequenino João. Pudera eu conversar com você como fazia há anos. Impossível! Você se foi naquela tarde sombria e triste. Aquele trajeto, tão perto e, ao mesmo tempo, tão longo, lágrimas desciam dos meus olhos, o silêncio era enternecedor. Meu grudinho, no banco do passageiro, inerte, calado, frio, sem vida. E eu com o pensamento nos muitos anos vividos ao seu lado.
Fomos uma incrível mistura racional e irracional, dividimos o mesmo espaço, caminhávamos juntos, fazíamos raiva mutuamente, eu gritava e você latia nas horas de mau-humor. Você e eu éramos a junção do companheirismo, do cuidado, do amor. Ah, João, quanta saudade eu sinto da sua presença, das suas fugidas, do meu desespero, da procura, do pregado de cartazes em cada rua, da agonia da noite e do feliz reencontro. Das nossas inúmeras viagens, da nossa felicidade na beira do mar, você correndo na areia molhada, tantas aventuras, tantos inesquecíveis momentos.
Hoje, precisava escrever para você, falar o quanto você representou e representa para mim, quantas vezes, larguei o trabalho para lhe socorrer, quantas noites acordada para colocá-lo no aerossol. Você ficou até onde foi possível, lutou bravamente para não me deixar. Mas eu tinha a ilusão que você ficaria mais tempo, que não partiria assim num repente, que você voltaria para casa como tantas outras vezes, num deu né, João?!.
Agora, você permanece aqui, no lado esquerdo do meu peito, na rosinha branca que floresce todo dia ao lado da minha janela, na borboleta que sobrevoa o meu jardim, no gorjear do passarinho, no lindo nascer do sol, na chuva fina, na brisa, no arco-íris no fim de tarde e no vento suave que traz o teu doce cheirinho para mim.
João! Você é inspiração, canção, poesia, o amor maior e mais puro que conheci e que guardarei no meu coração para todo o sempre.
Com infindas saudades,
o meu eterno amor.
Sua mamãe,
Fátima
Na Antologia: Cartas para o meu amor
EDITORA LURA