A PIRRALHA DO SERTÃO
É, vou contar uma história... da birrenta e sapeca pirralha que vivia no interior do sertão. A garota gostava de madrugar, ouvir o canto do galo, escutar o relincho do jumento e o mexido de panelas na cozinha. Apreciava a sua roupinha de chita, detestava pentear o cabelo, mas adorava andar descalça. No campo, na roça, na beira do riacho deslumbrava-se com a natureza. Amava subir nas árvores, caçar ninho de rolinha, correr por caminhos de areia, colher flores silvestres e imitar o canto do bem-te-vi. Gostava de pular o passador da cerca, olhar a frondosa oiticiqueira, pisar nas folhas secas e deitar na sombra do juazeiro. Deleitava-se com o anoitecer chuvoso, com as nuvens cheias no céu, com os pingos de chuva no telhado, com o canto do sapo no brejo, mas arrepiava com o chiado da coruja. Costumava sentar-se na janela alta do oitão, olhar o mundo lá fora, ver o cabrito brincar com o borrego e a cabra preta amojada, mas tremia quando o barulhento careta chegava. Andar com o seu gato malhado, comer canapu no cercado, tomar água de cacimba e carregar água na cabaça. Procurar Pica-Pau na mata, achar a casa do João-de-Barro, caçar o ninho de periquito e apanhar feijão-verde no roçado. Apaixonada pelo anoitecer, deitada no meio do nada, contava as estrelas brilhantes e com a lua cheia conversava, pedia para ela buscar o lindo príncipe encantado, montado no cavalo branco, da fábula que seu pai, tão bem inventava.