O ÚLTIMO NATAL DE MARIA
Maria vivenciou muitos dezembros no decorrer da sua vida e consequentemente, muitos festejos de Natal. Participou do vai e vem dos transeuntes, vestiu-se com a sua melhor roupa para assistir, com muita devoção a missa da meia-noite. Quando criança, também acreditava na existência do Papai Noel e esperou muitas madrugadas pelo bom velhinho que chegaria pela chaminé trazendo o seu lindo presente. No céu buscou, anualmente, a brilhante estrela de Belém, símbolo do nascimento de Jesus Cristo. Amava os festejos natalinos reproduzidos em praças e logradouros por meio de presépios e bonitas árvores de Natal, cenários representativos da chegada do menino Jesus. Lindas réplicas da Virgem Maria, de São José, dos reis magos e dos animais, cada uma com grande simbologia natalina. Viveu inúmeras noites festivas do Natal, seguiu eufórica a banda de música no patamar da igreja, ricamente decorado com luzes que reluziam pela cidade. Muitos encontros nas lindas noites rememorativas do nascimento do filho de Deus. Participou por anos das confraternizações religiosas com suntuosas ceias natalinas. Muitos perus na mesa, indicativos de fartura, muitos risos, muitos abraços, muitos brindes com champanhe no tilintar de taças e trocas de presentes com a presença de familiares e amigos, ao lado da bonita árvore de Natal na aconchegante sala de estar. Muda-se o tempo... Na rua, burburinhos de pessoas transitando, o vento trazia o barulho e o cheiro da queima de fogos pela cidade, o som dos cânticos e o ressoar do sino na matriz. Na porta da frente o silencioso pêndulo, na sala uma escassa iluminação, sem a decorada árvore natalina, sem as luzes coloridas, sem o delicioso peru e sem as alegres presenças das festas anteriores. Sozinha, celebrava com louvor o nascimento de Jesus Cristo na sua verdadeira essência, a entrada de Deus nos corações da humanidade. Maria nem imaginava que aquele seria o seu último Natal na terra. Mas Deus a enviou uma singela e repentina alegria: batidas na porta, o sonoro balanço do pêndulo, a fragrância doce da flor vermelha e a triunfante entrada de uma abençoada criança. O grito de alegria, o sorriso espontâneo, o abraço apertado e o sincero eu te amo. E Assim, como Isaías anunciou o nascimento de Jesus Cristo, Deus também anunciou a breve partida de Maria para a casa do Senhor Salvador com o inocente e singelo gesto de amor.