Foto: TICIANO FONTENELLE
TRISTE PARTIDA
Murcha o girassol
Na subida da ladeira
A terra já ressecada
Onde canta o sabiá.
Cerca de xique-xique
Na roça o mandacaru
Falta água no riacho
Gorjeia o bem-te-vi.
O gado sofre calado
Come palma forrageira
Mata a sede na gamela
Na sombra do juazeiro.
A cacimba mina pouco
Seca a fonte do barreiro
O Beija-flor sobrevoa
A flor caída do jasmim.
O chão está ressecado
A seca mata a plantação
O sol quente incendeia
Falta a chuva no sertão.
O sertanejo olha para o céu
De joelhos a Deus suplica
Para chover no seu nordeste
Com a graça do Padim Ciço.
O boiadeiro já cansado
Segue tangendo a boiada
Na busca de novos pastos
No toque rouco do berrante.
O menino avista de longe
Levanta a poeira na estrada
Corre rápido, abre a porteira
Na descida o pau-de-arara.
Ficou o gato e o cachorro
A boneca de pano, esquecida
O papagaio chora no telhado
Grita pelo Zeca, entristecido.
O clamor é angustiante
No canto da “triste partida”
A criançada chora o pranto
Do adeus da despedida.