Ritinha era conhecida como uma menina diferente na pequena cidade em que nasceu. Numa quente manhã de verão veio ao mundo pelas mãos calejadas de uma humilde parteira. Sua mãe dizia que a criança chegou tão feinha, olhos arregalados, cabelos mastigados, um trisco de gente. Deu-lhe o nome de Rita em homenagem a uma querida parenta. A garota, à medida que o tempo passava, chamava atenção pelo seu jeito esquisito de ser. Cresceu no meio da meninada da rua, sempre arteira, gostava de brincar sozinha, de ficar de cabeça para baixo e dar inúmeras cambalhotas na areia do rio que ficava após o quintal da sua casa. Brincava nos buracos das pedras e pegava curiosamente os caramujos no lamaçal da beira do rio. Foi crescendo, mas Rita se achava sem graça, trazia na mente o fato de ter nascido uma aberração aos olhos de sua genitora e vizinhança. Demorou a frequentar a escola, muita tímida, vivia escondida atrás da florada e longa saia de sua querida mamãe. Detestava vestir roupas, o que deixava o seu pai muito irritado. Era obrigado a amarrar o macacão no seu cangote para ela não tirar, não tinha jeito, acabava que sua roupinha ficava dependurada no pescoço. Cresceu! Acabou que ficou uma mocinha engraçada, mas carregava o triste estigma de não ser bonita, usava franja para disfarçar o tamanho de seu nariz, era complexada, não gostava de se olhar no espelho. Ficou muito reservada, tinha medo de enfrentar o novo, não aceitava o flerte dos meninos de sua idade. Certa vez, um garoto na saída da escola, empurrando a sua antiga bicicleta, lhe falou de namoro. Ela ficou trêmula, envergonhada e disse ao menino que só daria a resposta na semana seguinte. Coitado! Todo dia ficava esperando ansioso o sim, o que nunca aconteceu. E assim, outros tentaram um romance, o que também não deu certo. Rita, não teve uma adolescência saudável, nunca dançou, não teve grupo de amigos, não participou de eventos escolares, não rodopiou na praça, se achava inferiorizada. Gostava muito de ler revistas da época e romances, sempre deitada na sua velha rede, trancada no seu quarto e no seu mundo. O tempo passou, mudou de cidade, conheceu alguém, casou, teve filhos e se divorciou já na idade madura. Hoje, percebe o quão difícil foi a sua vida por ser considerada e acreditado ser uma criança feia, desajeitada e doente. Ritinha, ao desenrolar à sua história, passou a ter compaixão daquela menina, curando-a e a deixándo no seu tempo. Só assim, conseguiu mudar o rumo do seu pensamento, ressignificando os pedregulhos de sua vida, tornando-se uma mulher forte, determinada, realizada e feliz.